Na ONU, Bolsonaro defende ‘tratamento precoce’ e manifestações golpistas

“Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”, declarou Bolsonaro

São Paulo – Em discurso na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira (21), em Nova York, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o uso “tratamento precoce”, composto por medicamentos sem eficácia contra a covid-19. Também afirmou que medidas de isolamento e lockdown deixaram um “legado de inflação”, em especial nos gêneros alimentícios, atribuindo a governadores e prefeitos a decisão de obrigar as pessoas a ficarem em casa durante e pandemia.

“Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial”, disse Bolsonaro, em fala que durou pouco mais de 10 minutos. O presidente afirmou respeitar a relação “médico-paciente” na decisão da medicação a ser utilizada contra a covid-19, defendendo inclusive o uso fora dos termos prescritos em bula.

“Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial”, declarou. “A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”, acrescentou. 

Sobre a vacinação, afirmou que 140 milhões de brasileiros já receberam a primeira dose, o que corresponde a 90% da população adulta. “Até novembro, todos que escolheram ser vacinados no Brasil, serão atendidos”, prometeu, pontuando que seu governo tem se posicionado “contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina“.

Bolsonaro também disse que o Brasil está há dois anos e oito meses sem qualquer “caso concreto de corrupção”, ignorando tratativas para a compra superfaturada da vacina Covaxin e outros casos investigados pela CPI da Covid.

Manifestações golpistas

Bolsonaro também destacou as manifestações contra o STF realizadas por seus apoiadores no último dia 7 de setembro como a “maior de nossa história”. Disse que “milhões de brasileiros” foram às ruas, “de forma pacífica e patriótica”, para demonstrar suposto apreço pela democracia e pelas liberdades individuais, além de manifestarem apoio ao seu governo.

Meio ambiente

O presidente também pintou um cenário fictício a respeito da atual situação do meio ambiente no país. Contra o avanço das áreas desmatadas nos últimos anos, apontou que o desmatamento na Amazônia caiu 32% em agosto, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. O que ele omitiu foi o fato de a comparação do acumulado do sistema Deter dos últimos três anos (2019, 2020 e 2021), quando comparado com o acumulado dos três anos anteriores, mostra um aumento de 70%.

Além disso, mesmo diante do desmonte dos órgãos de fiscalização, afirmou que seu governo “dobrou” investimentos em recursos humanos e financeiros destinados a “zerar o desmatamento ilegal”.

“Qual país do mundo tem uma política de preservação ambiental como a nossa?”, arguiu Bolsonaro, convidando líderes mundiais a visitarem a Amazônia. Afirmou que o futuro do “emprego verde” está no Brasil, “com energia renovável, agricultura sustentável, indústria de baixa emissão, saneamento básico, tratamento de resíduos e turismo”.

Mesmo em meio à ameaça de apagão e da escalada da tarifa, disse que o Brasil também é exemplo de geração de energia, com 83% da matriz energética composta por fontes renováveis. Também prometeu alcançar a “neutralidade climática” até 2050.

Comunistas e bolivarianos

Apesar da fala exígua, Bolsonaro fez ataques a “comunistas” e “bolivarianos”. Disse que acredita em Deus, na família e na Constituição e respeita os seus militares. E que deve lealdade a seu povo. “Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.” Nesse sentido, o presidente também afirmou que o BNDES financiou “obras em países comunistas, sem garantia”. Por outro lado, destacou que o Brasil recebeu, como refugiados, 400 mil venezuelanos deslocados devido à grave crise político-econômica gerada pela “ditadura bolivariana”.

Afeganistão

Bolsonaro também afirmou que o futuro do Afeganistão causa “profunda apreensão”. E prometeu visto humanitário “para cristãos, mulheres, crianças e jovens afegãos”. Além disso, repudiou o terrorismo “em todas as suas formas, ao lembrar dos 20 anos dos atentados contra os Estados Unidos, em 11 de setembro de 2001.

Reprodução/ONU – Tiago Pereira/ RBA