Governo paulista vai condicionar a volta às aulas à evolução da pandemia de coronavírus, deve ter sistema de rodízio e regionalização
O governador paulista, João Doria (PSDB), anunciou hoje (24) que às aulas no estado só serão retomadas em julho. Além disso, será feita de modo gradual, com rodízio de estudantes e conforme a situação da pandemia no local, conforme avaliação do Centro de Contingência do coronavírus de São Paulo. As primeiras a voltar serão as creches e pré-escolas, como forma de apoiar mães e pais que precisam voltar ao trabalho, conforme a quarentena for sendo flexibilizada. As escolas municipais e particulares terão de seguir as orientações de retorno gradual.
O governo Doria informou que, como as escolas, especialmente as da rede pública, são superlotadas, poderá ser adotado um rodízio, para garantir um distanciamento entre os alunos dentro das salas de aulas. Nas primeiras semanas da volta às atividades, os alunos serão avaliados sobre eventuais prejuízos de aprendizado resultantes do período de suspensão das aulas e os professores vão planejar estratégias de reforço e recuperação. Além disso, medidas de higiene e distanciamento serão aplicadas.
“A educação infantil, que tem atendimento de creche, será priorizada pensando especialmente nas mães que trabalham fora e nas demais configurações de famílias que necessitam de cuidados integrais aos filhos, para que retornem ao trabalho”, disse o secretário de Estado da Educação, Rossieli Soares. As aulas estão suspensas desde o dia 23 de março, por conta da pandemia de coronavírus. No dia 27 de abril, começam a valer as aulas em modalidade de ensino à distância (EaD).
Para a presidenta do Sindicato dos Professores no Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e deputada estadual, Professora Bebel (PT), a proposta de volta às aulas de Doria é “uma atitude irresponsável, que colocará em risco a saúde dos alunos, professores e de todos aqueles que têm contato com eles, o que deverá aumentar de maneira exponencial o número de casos de covid-19 no estado”.
“O governador e o secretário certamente desconhecem a realidade da educação paulista. Os professores lidam diariamente com classes superlotadas e falta de material básico, como papel higiênico. Em muitas escolas os banheiros estão quebrados, não há lavatórios ou sabonetes. Como eles pretendem garantir as condições necessárias para que o contágio seja evitado? Como fazer com que as crianças respeitem uma distância mínima, usem máscara, passem álcool gel nas mãos? A verdade é que, neste momento, todos devem seguir o isolamento social, como preconiza a Organização Mundial da Saúde”, disse Bebel.
Especialistas em educação também criticam a proposta de EaD do governo Doria, por entender que ela vai piorar a desigualdade social existente entre os estudantes. “Oferecer a educação à distância na educação básica é rejeitar o direito à educação, pois implementar a modalidade é algo impossível de se fazer sem ampliar as desigualdades da educação brasileira, ainda que seja neste período de exceção”, avalia a Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
A organização aponta que o EaD não é adequado para o ensino fundamental, pois a criança ainda precisa desenvolver autonomia, capacidade de concentração e autodisciplina que a modalidade requer. E nem para o ensino médio, pois exigiria uma estrutura complexa de adaptação, adequação pedagógica e condições de apoio ao ensino-aprendizagem.