Médica sanitarista, Lucia Souto destaca que o único meio para evitar a propagação da doença e o colapso no sistema de saúde é com a radicalização do isolamento social, o chamado lockdown
Para especialistas, é cada vez mais necessária a adoção do chamadolockdown para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus no Brasil. Já são mais de 160 mil casos confirmados da covid-19, segundo dados do Ministério da Saúde divulgados no domingo (10). Ao todo, o país registra 11.123 mortes em decorrência da doença, com 496 vidas perdidas em um período de 24 horas.
Nesse cenário, o bloqueio total das atividades, com medidas mais restritivas de circulação de pessoas, desponta como um consenso generalizado entre os especialistas. A observação é da presidenta do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), Lucia Souto, médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em entrevista à Rádio Brasil Atual.
“O isolamento radical, que eu acho uma expressão melhor, é a única medida que está ao nosso alcance”, ressalta Lucia. Nesse sentido, de acordo com a presidenta do Cebes, qualquer tentativa de afrouxamento no distanciamento social é uma “irresponsabilidade radical”. “O único meio que nós temos nesse momento de evitar a propagação da doença, de evitar mais ainda o colapso do sistema de saúde, é a radicalização da medida de isolamento social. Isso é uma coisa absolutamente comprovada e está evitando mortes, protegendo e salvando vidas”, explica.
Postura do presidente é um acinte
Aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria, a médica sanitarista ainda alerta que o número de casos e óbitos está subnotificado no país. Na semana passada, estudo liderado por cientistas brasileiros mostrou que número real de casos é superior a 1,6 milhão. Os dados colocam o Brasil como o novo epicentro da doença em todo o mundo, ultrapassando os Estados Unidos, que até a última quinta-feira (7) lideravam os registros, com 1,25 milhão de infectados.
Por aqui, no entanto, os especialistas ainda levantam outras preocupações, como a falta de liderança e articulação do Ministério da Saúde com os entes estaduais, e a postura do presidente Jair Bolsonaro, que segue subestimando a doença e a quarentena. “A cena do presidente andando de jet ski no lago é uma coisa realmente que chega a ser um acinte”, contesta. “Isso é mais um ingrediente que se soma à nossa preocupação e que reforça, mais ainda, a necessidade indispensável dos governos dos estados e as prefeituras radicalizarem”, reforça a pesquisadora da Fiocruz. (RBA)