Foi uma das últimas transações feitas na gestão de Rubem Novas, que pediu demissão e criticou a cultura de corrupção de Brasília
A venda de uma carteira de crédito do Banco do Brasil para o banco BTG Pactual, por pouco mais de 10% do valor, chamou a atenção dos funcionários, que pediram uma investigação ao Tribunal de Contas da União. Foi uma das últimas transações feitas na gestão de Rubem Novas, que pediu demissão e criticou a cultura de corrupção de Brasília.
“A Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) pediu ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue a operação de venda da carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões para o BTG Pactual. O Banco do Brasil está sendo criticado por partidos políticos e sindicatos por supostamente vender barato demais a carteira de crédito. Ela foi vendida por R$ 371 milhões. A operação foi anunciada no início do mês, sob a gestão do presidente Rubem Novaes, que entregou na sexta-feira o pedido de demissão ao ministro da Economia, Paulo Guedes”, aponta reportagem de Adriana Fernandes, publicada no Estado de S. Paulo.
Guedes foi um dos fundadores do BTG Pactual, hoje controlado por André Esteves. “Em ofício ao TCU, o presidente da ANABB pediu ao Tribunal que se “debruce” sobre a legalidade dos negócios efetuados e verifique por meio de auditoria eventuais prejuízos aos acionistas”, aponta ainda Adriana Fernandes.
E por que o BTG comprou?
O BTG é um dos bancos mais ativos no Brasil na compra de carteiras de crédito vencido. A lógica do negócio é adquirir o crédito podre com um bom desconto, ir atrás dos devedores e recuperar mais dinheiro do que pagou pela operação.
Mas, para fazer isso, a instituição financeira precisa de tecnologia, pessoal e sistemas. O BTG atua nessa área desde 2009, quando comprou a Recovery, que fazia apenas esse tipo de negócio. Em 2015, o BTG vendeu essa operação ao Itaú. Mas voltou a operar nessa área no ano seguinte, ao adquirir a Enforce. “Esse é um tipo de negócio que o BTG conhece muito bem”, disse o executivo de uma empresa que atua nesse mercado e é concorrente do BTG.
Mercado de R$ 700 bi antes da pandemia
Segundo profissionais que atuam nesse setor, esse tipo de operação movimentou cerca de R$ 40 bilhões em 2019. De acordo com executivos de empresas desse segmento, o estoque de ativos e créditos com problemas no País era, antes da pandemia, da ordem de R$ 700 bilhões. Além dos bancos, grandes varejistas também recorrem a esse mercado para levantar recursos novos em troca de créditos vencidos.
Crítica de sindicatos
Representantes de bancários e integrantes de partidos de oposição afirmam que o Banco do Brasil não foi transparente nessa operação. Eles apontam que faltaram detalhes sobre quais tipos de crédito vencido foram negociados com o BTG — se para pessoas físicas ou empresas ou para o agronegócio —, além de informações mais precisas sobre, por exemplo, a inadimplência média dessas carteiras.