O governador João Doria e integrantes do Centro de Contingência do Coronavírus criticaram o que consideram “burocratização” no processo de aprovação da vacina Coronavac em coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes na manhã desta segunda-feira (11).
O pedido para o uso emergencial do imunizante desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac foi entregue na última sexta (8) para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
No dia seguinte, porém, o órgão informou por meio de nota que a documentação estava incompleta e realizou reuniões com representantes do Instituto para estabelecer novos prazos.
Durante a triagem dos documentos do imunizante desenvolvido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também teve o pedido de uso emergencial apresentado na semana passada, não foi encontrada nenhuma ausência e o processo seguiu para a próxima etapa.
Segundo a Anvisa, após notificado o Butantan informou que “apresentará os dados com brevidade” e a agência “continuará a avaliar a documentação que já foi enviada, de forma a otimizar esforços para uma decisão célere sobre o pedido”.
Dados sobre características demográficas e basais da população do estudo como idade, sexo, raça, peso ou índice de massa corporal (IMC), e outras características, como, por exemplo, a existência de comorbidades, estão entre as informações adicionais solicitadas pelo órgão.
Informações precisas sobre a imunogenicidade da fase 3 do estudo também foram demandadas. A requisição dos documentos técnicos está prevista no Guia 42/2020 (Requisitos para submissão de solicitação de autorização temporária de uso emergencial Vacinas – Covid-19).
Em posicionamento publicado no mesmo dia, o Instituto afirmou que “os pedidos de novos documentos ou mais informações são absolutamente comuns em processos como esses.”
“O fato da Anvisa solicitar mais informações, que estão sendo prontamente atendidas pelo Butantan, não afeta o prazo previsto para autorização de uso do imunobiológico”, diz a nota do Butantan.
Ainda que as instituições envolvidas aleguem ser um trâmite normal, João Doria iniciou a coletiva de imprensa desta segunda pedindo que haja “senso de urgência e agilidade” para a aprovação da Coronavac, sem citar diretamente a Anvisa.
“Não podemos nos esquecer que o Brasil estar perdendo mil vidas todos os dias. O senso de urgência, amparado pela ciência, deve prevalecer. Não é razoável que processos burocráticos, ainda que em nome da ciência, se sobreponham à vida”, criticou o tucano.
Doria ressaltou que os planos para o início da vacinação em 25 de janeiro no estado de São Paulo estão mantidos, já que a versão final do Programa Nacional de Imunização (PNI) do governo federal ainda não foi divulgada. “Temos apenas um esboço”, afirmou.
“Não há razão em não fazer todos os esforços para termos a vacina do Butantan e outras vacinas rapidamente disponíveis para a população brasileira. Postergar, adiar, protelar, burocratizar.. pra que? Para servir a qual interesse?”, continuou o governador.
O governador citou declarações de Eduardo Pazuello, ministro da Saúde, que defendeu uma distribuição proporcional das vacinas entre todos os estados. Para isso, Doria afirmou que o governo federal deve amparar suas decisões em áreas técnicas e não em posicionamentos políticos e ideológicos.
“Mais de 60 países já vacinaram a sua população. Aqui estamos vacilando ao invés de estarmos vacinando. Não é razoável, não é aceitável”, declarou Doria.
“Todos os dias vemos as pessoas celebrando quando recebem a vacina e aqui vemos pessoas chorando porque perdem seus entes queridos, seus amigos. O Brasil precisa imediatamente de doses da vacina e de responsabilidade”.
O secretário da saúde, Jean Gorinchteyn, destacou que as doses da Coronavac são as únicas que já estão disponíveis em todo país.
“A vacina do Butantan é eficaz, segura, imunogênica, produtora de anticorpos protetores. Temos que antecipar e diminuir a burocratização. Temos que permitir com que nossa população tenha o privilégio de ser protegida. Se estivermos caminhando como o PNI, contemplando poucas vacinas, demoraremos muito para vacinar todas as pessoas que correm risco de morrer em decorrência dessa doença”, disse ele.
Como vai ser a vacinação em SP?
Os principais elementos da logística do plano estadual de imunização foram apresentados pelo secretário executivo de Saúde, Eduardo Ribeiro. Ele frisou que o programa paulista poderá ser acoplado ao PNI em qualquer momento.
São 10,8 milhões de doses da Coronavac disponíveis no momento. O deslocamento das vacinas ocorrerá da seguinte maneira: as doses sairão do Instituto Butantan para a Central de Logística e Distribuição do Estado de São Paulo.
De lá, chegarão aos municípios a partir de duas entregas. Os 200 municípios mais populosos, com mais de 30 mil habitantes, receberão diretamente as doses toda semana.
Os demais farão a retirada dos imunizantes em um dos 25 Centros de Distribuição Regional espalhados em todo estado, que, por sua vez, receberão as doses da Central de Logística.
Em média, serão 2 milhões de dose distribuídas por semana, transportadas por 70 caminhões refrigerados acompanhados por uma central de monitoramento que fará a rastreabilidade por radiofrequência.
Haverá um auditoria independente sobre todo o volume da carga movimentada, assim como o controle da temperatura.
São 5.200 postos de vacinação, que já compõem a rede pública, e 5.200 câmaras de refrigeração.
Com a utilização de escolas, quartéis da Polícia Militar, estações de trens, terminais de ônibus e farmácias, o governo pretende expandir os locais de vacinação para 10 mil.
Cerca de 75 milhões de seringas e agulhas estarão disponíveis para a execução do plano, sendo que 20 milhões já foram distribuídas na rede, e as demais serão entregues mensalmente entre janeiro e agosto.
O efetivo humano também é extenso: serão 52 mil profissionais de saúde treinados para atividades como preparo e organização das salas de vacinação, aplicação da vacina e registro em sistema e preenchimento de fichas para notificação da farmacovigilância.
A área da segurança também será reforçada e 25 mil policiais realizarão a escolta das vacinas e dos locais de aplicação, com suporte da Força Tática, Choque e Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas (Rocam).
O estado de São Paulo registrou, neste domingo (10), 48.351 óbitos e 1.546.132 casos confirmados do novo coronavírus.
Foto: Silvio Avila/ AFP
Lu Sudré/BF