Para Gustavo Cabral (USP) flexibilização deveria ocorrer somente quando cerca de 70% da população estiver completamente imunizada
O imunologista, PHD e pesquisador da USP Gustavo Cabral criticou o abandono de parte das medidas de segurança para conter a propagação da covid-19, como ocorreu no estado de São Paulo, que anunciou o fim das restrições no comércio e em serviços desde a última terça-feira (18). A vacinação avança, mas apenas 24,36% da população completou a imunização até o momento. Além disso, já há registros da transmissão comunitária da variante delta, que tem maior potencial de disseminação, em diversos estados. Ademais, pesquisadores de Goiás também identificaram recentemente outra variante, chamada gama plus.
Nesse sentido, Cabral afirma que estamos numa “linha tênue”, e a flexibilização descontrolada coloca em xeque os avanços até aqui registrados. “Se a gente não quer voltar para aquele pico de até 4 mil mortos por dia, precisamos seguir as orientações científicas”, disse, em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, nesta quarta-feira (18). “Corremos o risco enorme de dar vários passos atrás”, acrescentou.
Também no âmbito da flexibilização, ele criticou a abertura indiscriminada das escolas, que vem causando aumento do número de casos entre crianças, adolescentes e profissionais de educação. Em outros países, como na Inglaterra, o retorno às aulas presenciais é acompanhado pela testagem em massa da comunidade escolar como forma de conter a transmissão do vírus. “É possível voltar às aulas, mas se for muito bem organizado e coordenado”, alerta o imunologista.
Bolsonaro, máscaras e CoronaVac
Também causou espanto os pareceres da Procuradoria-Geral da República (PGR), assinados pela subprocuradora Lindora Araújo, que afastaram a ocorrência de crimes na conduta do presidente Jair Bolsonaro ao promover aglomerações e negar o uso de máscaras. Lindora chegou a alegar que o grau de proteção de eficácia das máscaras permanece “indefinido”. Segundo Cabral, contudo, não é de hoje que os equipamentos de proteção facial são adotados em ambientes hospitalares e laboratoriais.
Por fim, ele também ironizou as seguidas declarações de Bolsonaro depreciativas contra a CoronaVac, já que estudos comprovam sua eficácia, especialmente no sentido de evitar quadros graves da doença. Cabral lembrou que a vacina produzida em parceria pelo Instituto Butantan com a chinesa Sinovac utiliza a mesma tecnologia da indiana Covaxin, que despertou interesse do governo federal. “A diferença é que a CoronaVac não rende propina de um dólar por dose”, provocou o imunologista.
(RBA) – GOVSP/Fotos Públicas