Por aqui, epidemiologista diz que é urgente rever medidas “extemporâneas” de relaxamento, como o fim do uso de máscaras
Por Tiago Pereira, da RBA
São Paulo – A Alemanha bateu novo recorde de infecções pela covid-19 nesta sexta-feira (18). De acordo com o Instituto Robert Koch, agência pública de saúde, foram 297.845 novos diagnósticos e 266 mortes nas últimas 24 horas. Essa letalidade só não é maior porque 58,1% dos alemães já receberam a dose de reforço. Em todo o continente europeu, a média semanal de casos subiu 14% nos últimos 14 dias, segundo o portal Our World in Data.
Ao mesmo tempo, a Coreia do Sul também vive o pior momento da pandemia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o país tem a maior taxa de transmissão em todo o mundo, com mais de 2,4 milhões de contágios nos últimos sete dias.
Com patamares muito menores, a China também registrou recorde de contágio nesta semana. Na última foram mais de 5 mil novos casos da doença. Esse aumento recente vem colocando em risco a a estratégia de “covid zero” que vem sendo aplicada no país. Os chineses realizam testes em massa, fazendo a busca ativa e isolando os contaminados. Além disso, cerca de 30 milhões foram submetidos a medidas restritivas em diversas províncias nesta semana, como forma de conter a cadeia de transmissão.
Assim, em toda a Ásia, a média móvel de casos cresceu 37,6% nas duas últimas semanas. Juntos, Europa e Ásia respondem por 90% dos novos casos registrados nesta semana.
Para o epidemiologista da Fiocruz-Amazônia Jesem Orellana, o aumento de casos nessas regiões serve de alerta ao Brasil. Mais do que isso, indicam que “as coisas devem piorar” por aqui, chegando à marca de 700 mil óbitos. Ainda assim, ele afirma que o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, “insistem em mergulhar o país numa realidade paralela, na qual a epidemia estaria se esgotando”.
Fevereiro letal
Em artigo publicado no Portal da Amazônia, Orellana destaca que o pico da ômicron no Brasil, entre 6 e 12 de fevereiro, matou 6.246 pessoas. Já em março, foram cerca de 3 mil vítimas semanalmente. Ao todo, desde o início do ano, já são quase 38 mil óbitos pela covid-19.
“Ao contrário do que muitos acreditaram, equivocadamente, a ômicron não veio para acabar com a pandemia”, disse o epidemiologista. Em vez disso, a nova variante ainda “brindou” o planeta com a sua “descendente”, a subvariante BA.2. Além disso, ele destaca que o novo coronavírus segue desempenhando seu papel evolutivo, inclusive com variantes “recombinantes” como a deltacron.
Ele também ressaltou que o Brasil é apenas o sexto no ranking da vacinação entre os países da América do Sul, ficando atrás de Chile, Uruguai, Argentina, Equador e Peru. Ele chama a atenção principalmente para a baixa cobertura vacinal – inferior a 60% – entre adolescentes de 12 a 17 anos. Entre as crianças de 5 a 11 anos, a situação é pior ainda, já que apenas 5% se vacinaram com as duas doses.
Com a cobertura vacinal desigual e o crescimento de casos ao redor do mundo, Orellana diz que é “urgente” rever medidas “extemporâneas” de relaxamento, como o fim do uso de máscaras em diversas regiões do país. Além disso, ele afirma que Bolsonaro, com seu “tóxico negacionismo” é um dos principais responsáveis pela baixa adesão à vacinação, assim como pelo trágico desempenho do Brasil durante a pandemia.
Balanço da covid no Brasil
Hoje, o Brasil registrou 373 mortes pela covid-19, de acordo com o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Assim, a média móvel semanal de óbitos continua caindo, e ficou em 320/dia, menor índice desde 24 de janeiro.
Nas últimas 24 horas, as autoridades de saúde registraram 45.472 casos da doença. A média móvel de casos também voltou a cair, para 38.285/dia, menor marca desde 10 de janeiro.
No total, já são 656.798 mortes pela covid-19 oficialmente registradas. E mais de 29,5 milhões de casos da doença.