De acordo com a CNI, produção industrial subiu para 54,4 pontos em março, mas crédito caro e demanda reprimida ligaram o alerta no setor
Por Tiago Pereira/RBA
Foto: Divulgação/CNI
São Paulo – Levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgado nesta terça-feira (19) revela que o empresariado está preocupado com a persistente queda no consumo e com os juros altos no Brasil. Em março, a produção industrial subiu para 54,4 pontos. Acima de 50, o índice aponta para a expansão do setor, o que não ocorria desde dezembro. No entanto, também cresceu a fatia dos empresários que estão apreensivos com os fatores relacionados ao esfriamento da atividade econômica.
A queda no consumo foi citada por 25,5% dos empresários industriais como a principal preocupação. De acordo com a CNI, esse temor vem avançado no último período. No segundo trimestre de 2021, por exemplo, demanda insuficiente afligia 19,4% dos entrevistados.
Foi ainda maior o salto dos empresários que consideram as altas taxas de juros como o principal entrave para o setor. A preocupação com o encarecimento do crédito vem aumentando há quatro trimestres consecutivos. Na comparação com o trimestre anterior, subiu de 14,2% para 20,8% os empresários que citam a Selic como “problema’. No fim do ano passado, apenas 7,6% consideravam os juros como um obstáculo ao seu negócio.
No topo da lista, com 58,8% das menções, os empresários citaram a falta ou o alto custo de matéria-prima. A carga tributária aparece na sequência, com 33,2% das menções. Por outro lado, o emprego no setor industrial também não avança. O índice, que ficou em 50,1 pontos, está no mesmo patamar de março do ano passado. Já a Utilização da Capacidade Instalada (UCI) aumentou 1 ponto percentual, para 69%, de fevereiro para março, dois pontos acima da média para o mês.
Causas
O gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, destacou que houve redução na dificuldade de acesso a matérias-primas, mas o problema de demanda “fica mais evidente”. “É realmente uma situação muito complicada”, afirmou em entrevista à Agência Brasil. Nesse sentido, a queda no consumo e a alta dos juros estão intimamente relacionados.
Em pouco mais de um ano, o Banco Central (BC) promoveu uma elevação brutal na taxa básica de juros. A Selic saiu de 2% ao ano, em fevereiro de 2021, para os atuais 11,75%, uma sucessão de nove altas seguidas. O objetivo da autoridade monetária é conter a alta da inflação. Mas como o avanço no preço dos produtos está ligado principalmente a fatores externos, e não tem a ver com a demanda aquecida, o Banco Central está aplicando o “remédio errado“, segundo economistas. Assim, os únicos beneficiários com o aumento dos juros são os detentores de títulos da dívida pública, que são corrigidos pela Selic.
Com os juros em alta, o acesso ao crédito fica mais difícil. Além disso, aumenta o custo para famílias e empresas que estão endividadas. Com menos crédito, o consumo se retrai ainda mais.
Além disso, a explosão da inflação, que acumula alta de 11,30% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) do mês passado, corroí ainda mais o poder de compra das famílias. Soma-se a isso o congelamento do salário mínimo, que já vai para o quarto ano seguido sem ganho real, bem como a maioria dos reajustes salariais que seguem perdendo para a inflação.