Em 2020, foram consumidos 6,2 litros de água para cada real de valor adicionado bruto (VAB) gerado pela economia brasileira. Esse é um dos dados divulgados hoje (2) nas Contas Econômicas Ambientais da Água (2018-2020), um estudo realizado pelo IBGE em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) que traz informações sobre os estoques de recursos hídricos e a contribuição da água para as atividades econômicas e as famílias.
“A água é muito importante para a economia, sendo utilizada por todas as atividades econômicas, seja no meio produtivo ou para consumo humano”, afirma o gerente das Contas Econômicas Ambientais, Michel Lapip.
Ainda no indicador de intensidade hídrica de consumo, que apresenta a vazão consumida de água (em litros) para gerar cada real de VAB, destaca-se a Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura entre as atividades econômicas analisadas na publicação. Esse setor necessitou de 683,8 litros de água para gerar cada real de VAB em 2020. Frente ao ano anterior, houve queda de 27,2%. Nesse período, enquanto o consumo de água dessa atividade aumentou 1,8%, o VAB cresceu 39,9%. Quando retirado o consumo de água do solo (decorrente das chuvas), a atividade consumiu 78,4 litros para cada R$ 1 gerado em 2020.
O estudo também calculou o indicador de atividades a partir do uso total da água (todo o volume de água que chega através do abastecimento ou é retirado diretamente do meio ambiente) em vez de considerar apenas o consumo, quando é excluído o volume que volta ao meio ambiente. Nesse caso, houve maior intensidade do uso de água pelas hidrelétricas da atividade Eletricidade e gás, por causa do volume de água necessário para movimentar as turbinas do setor.
Em 2020, o valor adicionado bruto (VAB) corrente da atividade econômica Água e esgoto foi de R$ 48,2 bilhões. Esse valor se refere à contribuição da atividade ao Produto Interno Bruto (PIB) e correspondeu a 0,7% do valor adicionado bruto corrente da economia do país. Os valores de produção de água de distribuição e serviços de esgoto, que também incluem o fornecimento de água para irrigação, foram calculados na atividade Água e esgoto.
No Sudeste e no Sul, a atividade Água e esgoto correspondeu a cerca de 0,8% do VAB corrente, com Centro-Oeste (0,7%), Nordeste (0,6%) e Norte (0,3%) a seguir.
Valor da produção de água de distribuição e serviços de esgoto no país é de R$ 74,5 bilhões
O valor da produção de água de distribuição e serviços de esgoto foi estimado em R$ 74,5 bilhões em 2020. Entre os componentes dessa atividade destaca-se a água de distribuição, que respondeu por 65,7% desse total. Pelo lado da demanda, as famílias foram as principais responsáveis tanto pelos gastos do uso dessa água (59,4%) quanto pelos gastos dos serviços de esgoto (59,8%).
A pesquisa também relacionou consumo intermediário com água de distribuição às vazões de água recebidas da atividade Água e esgoto e calculou seu custo médio. Na Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, esse custo médio foi de R$ 0,11 por metro cúbico (m³). No setor, o volume de água que vem do abastecimento é relacionado principalmente aos perímetros públicos de irrigação (PPI), que se destinam à exploração agrícola.
Excluída a atividade Água e esgoto, o custo médio da água e esgoto para o total das atividades econômicas foi de R$ 5,75/m³. Já o custo médio para as famílias foi de R$ 3,59/m³. O custo médio por volume de água e esgoto para o total da economia foi R$ 4,09/m³ em 2020. Em 2018, esse valor havia sido de R$ 3,50. O Centro-Oeste registrou os maiores valores em 2020 (R$ 5,29 para cada mil litros).
Entre 2018 e 2020, houve um crescimento médio de 1,9% no volume de água retirada para Captação, tratamento e distribuição da água, percentual que é considerando relativamente estável. As famílias, como usuárias finais, foram responsáveis por 70,5% desse volume. Nesse período, enquanto as famílias aumentaram em 1,6% o total do uso da água de abastecimento, a utilização de água nas atividades econômicas recuou em média 3,2%. Somente em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19 no país, houve queda de 11,3% frente ao ano anterior em relação às atividades econômicas.
“Em 2020, como medidas de prevenção à pandemia, foram estabelecidas restrições de mobilidade em diversas cidades e as famílias permaneceram em casa. Além disso, muitas atividades econômicas se retraíram e, consequentemente, diminuíram o uso da água”, explica Lapip.
Adições ao estoque de água do país totalizaram 24,9 milhões hm³ em 2020
As adições ao estoque de água do país somaram 24,9 milhões de hectômetros cúbicos (hm³ – cada hectômetro corresponde a 1 milhão de metros cúbicos). O estoque é todo o volume de água disponível ou armazenado superficialmente (em rios, riachos, lagos e reservatórios artificiais), em aquíferos (águas subterrâneas) e no solo. As adições podem ter origem em chuvas, no ingresso de água de rios com nascentes fora do Brasil e no retorno da água usada em atividades econômicas. As participações nas adições ao estoque foram: precipitação (água da chuva) (56,2%), entradas (28,5%) e o retorno ao meio ambiente por parte das atividades econômicas (15,3%).
Já a redução do estoque foi de aproximadamente 25,9 milhões de hm³ e os principais fatores foram a saída de água que podem ser para o mar, para outros países ou para outros recursos do território (46,8%), a evaporação/evapotranspiração das plantas (37,4%) e a captação de água pelas atividades econômicas (15,8%).
Entre 2018 e 2020, o volume precipitado teve uma queda acumulada de cerca de 9,1%. Da adição total ao estoque de águas superficiais (12,09 milhões de hm³) no país em 2020, 3,58 milhões de hm³ corresponderam ao retorno para reservatórios artificiais, rios, riachos e lagos por parte das atividades econômicas. Esse acréscimo representa cerca de 30% do total. Já a precipitação foi de 1,42 milhão de hm³, enquanto outros 2,43 milhões de hm³ vieram de outros países.
A redução nos estoques de águas superficiais no país foi de 16,64 milhões de hm³ em 2020. Desse total, a captação de águas para a economia respondeu por 3,58 milhões de hm³ e a saída para outros países (a jusante) foi de 0,50 milhão de hm³.
Setor de eletricidade se destaca na retirada total de água
A retirada total de água do país em 2020 foi de aproximadamente 4,1 milhões de hm³. Esse número compreende tanto a retirada para atendimento próprio quanto a captação para distribuição. O setor de Eletricidade e gás foi o que mais contribuiu para esse volume total.
Em 2020, a participação dessa atividade na retirada total foi de 85,1%. “No Brasil, a energia hidrelétrica predomina na matriz energética. Nessa atividade, não há consumo da água; há a retirada do leito do rio ou da barragem, a passagem pelas turbinas, a transformação em energia e a devolução da água na mesma quantidade e qualidade. É o que caracteriza o uso não consuntivo. Já na indústria de bebidas, a água captada não volta em sua totalidade, há o consumo”, explica o pesquisador.
A retirada na atividade de Esgoto e atividades relacionadas se refere à coleta de água da chuva escoada pelas redes pluviais. Em 2020, esse volume correspondeu a 0,9% da retirada total de água.
As principais captações diretas de água, considerando apenas o uso consuntivo (quando parte do volume consumido não volta ao meio ambiente) foram: Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (95,2%) e Captação, tratamento e distribuição de água (3,5%).
A pesquisa também analisou a retirada total de água pelas atividades econômicas considerando o tipo de corpo hídrico. Na Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura, 92,4% do volume retirado foram da água armazenada no solo, usada pela agricultura de sequeiro, ou seja, não irrigada.
Agricultura representa mais da metade das retiradas de água para uso consuntivo
As retiradas de águas superficiais e subterrâneas pelas atividades econômicas para uso consuntivo totalizaram 71,2 mil hm³. A atividade com a maior participação nessa retirada foi a Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (58,2%), seguida pela Captação, tratamento e distribuição de água (27,9%) e pelas Indústrias de transformação e construção (8,4%).
Outro ponto observado pela pesquisa foi a origem da água utilizada pelas atividades econômicas e pelas famílias. Nesse indicador, a água pode vir da retirada para atendimento próprio ou de um serviço de captação, tratamento e distribuição de água, como as empresas que operam os serviços de abastecimento ou fornecem água usada nos perímetros públicos de irrigação (PPI).
Quando se considera o volume de água distribuído para atividades econômicas, a participação dos PPIs foi de 41,7%. A água proveniente da captação, tratamento e distribuição de água tinha menor participação nas atividades econômicas do que a retirada para atendimento próprio.
Já o consumo total, que é a água utilizada menos o volume que retorna ao meio ambiente, foi de 306,1 mil hm³ em 2020. A Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura respondeu por 97,1% desse total, com destaque para a agricultura de sequeiro. A Indústria de transformação e construção (1,0%) e Água e esgoto (1,0%) também tiveram participação no consumo total.
O retorno da água para o meio ambiente totalizou 3,8 milhões de hm³ em 2020. Esse retorno pode vir da atividade de Água e esgoto, do lançamento direto pelas atividades econômicas e das famílias. A pesquisa calculou esse retorno ao meio ambiente, quando são excluídos o uso não consuntivo da atividade Eletricidade e gás, a água de chuva que passa pelas redes pluviais e a atividade Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura. O total nesse indicador foi de 23,2 mil hm³ e 29,3% desse volume retornaram pelos sistemas de esgoto.
Região Norte foi responsável por 87,1% da entrada de água no estoque do país
O Norte foi a região que mais contribuiu na entrada de água no estoque do país, com 87,1% de participação, devido à entrada de água de países a montante na Bacia Amazônica. Essa região também foi a principal responsável pela saída de água, com 80,0% de participação, seguida do Centro-Oeste (9,3%) e Sul (4,2%).
Mais sobre a pesquisa
A publicação Contas Econômicas Ambientais da Água: 2018 a 2020, realizada em parceria com a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), traz indicadores físicos e monetários sobre a oferta e a demanda de água no Brasil. Os dados compreendem as atividades econômicas e as famílias. No Sidra, é possível acessar as informações para Brasil e Grandes Regiões.
Fonte: agenciadenoticias.ibge.gov.br
Imagem: Alex/Pixabay